quinta-feira, 14 de março de 2013

Sunset by the sea

(http://www.southclay.co.uk/southclay-northdevon.asp)
Sente-se uma penumbra de mistério quando saímos da água já de noite. Como se esta se apaixonasse pelo mar, e nós, surfistas, testemunhas desse amor, aproveitamos até à ultima onda possível, como se de ultima dança se tratasse.
Normalmente os pés ressentem-se, gritando em silêncio, pelo frio que entra na pele. Tudo é estranhamente mais molhado, mais prolongadamente molhado. A água toma conta de nós e perdura no cabelo, entre os dedos dos pés e até nas pestanas salgadas mais tempo do que desejariamos. Levamo-la para casa, entranhada na roupa justa ao corpo, nas meias que afagam os pés gretados e nas calças ainda cheias de areia. E mesmo no dia seguinte, o sal parece resistir ao calor do conforto, permanecendo nas pestanas, na pele das mãos e no cabelo, com uma medalha simples para alguém que surfou até ao ultimo raio de sol.
Por tudo isto e muito mais, adoro surfar até o sol se pôr. Transbordo vitalidade, paz, tranquilidade e uma energia simples e verdadeira que me acompanha durante dias.
Tenho optimas recordações de momento assim, guardo-as em silêncio, pois só no silêncio as consigo retratar melhor. Só vagueando o olhar, sorrindo em silêncio e as recordando, me volto a transporta para aqueles momentos sem vento, em que o sol se põe e se despede com um "até já", enquanto faço uma ultima onda até ao inside.  Só no silêncio consigo voltar aos mil e um tons de vermelho, laranja, amarelo e rosa que tantas vezes admirei sentado em cima da minha prancha, impossiveis de retratar até pelo melhor pintor de sempre. 
São momentos assim, que me fazem perder o medo de morrer jovem, pois vivendo estes momentos, já alcançei a minha eternidade.

3 comentários:

Ana Fernandes disse...

:) ainda há poucas horas quis transmitir a um amigo, um pouco mais jovem, de como é fantástico nos deixarmos fundir com a natureza, por momentos mais breves ou mais extensos mas em que podemos ser privilegiadamente felizes... este texto transborda esse sentir, talvez eu devesse aconselhá-lo a lê-lo, tantas as vezes quantas as necessárias até ele interiorizar o que lhe pretendia dizer... o meu momento silêncio-laranja-difuso a per/correr a cidade noite dentro não será tão puro, natural, nem visualmente mágico mas é o que tenho para me eternizar e ser feliz mais um pouco todos os dias!
obrigada pela partilha!

João Morais Costa disse...

Obrigado Ana pelas suas palavras.
Realmente o dia a dia pode trazer-nos momentos fantasticos mas simples.
Um bom vinho numa boa companhia, um sorriso de um estranho, uma rua iluminada pelo por do sol, crianças que brincam..

Ana Fernandes disse...

dão cor e dão sentido... e da tranquilidade que daí advém e que se manifesta no nosso olhar, nos nossos gestos, nos nossos pensamentos, nas nossas acções... é a forma de estar na vida que me leva a "bom porto" independentemente do tamanho das vagas que tenha de ultrapassar ;)