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(http://www.southclay.co.uk/southclay-northdevon.asp) |
Sente-se uma penumbra de mistério quando saímos da água já de noite. Como se esta se apaixonasse pelo mar, e nós, surfistas, testemunhas desse amor, aproveitamos até à ultima onda possível, como se de ultima dança se tratasse.
Normalmente os pés ressentem-se, gritando em silêncio, pelo frio que entra na pele. Tudo é estranhamente mais molhado, mais prolongadamente molhado. A água toma conta de nós e perdura no cabelo, entre os dedos dos pés e até nas pestanas salgadas mais tempo do que desejariamos. Levamo-la para casa, entranhada na roupa justa ao corpo, nas meias que afagam os pés gretados e nas calças ainda cheias de areia. E mesmo no dia seguinte, o sal parece resistir ao calor do conforto, permanecendo nas pestanas, na pele das mãos e no cabelo, com uma medalha simples para alguém que surfou até ao ultimo raio de sol.
Por tudo isto e muito mais, adoro surfar até o sol se pôr. Transbordo vitalidade, paz, tranquilidade e uma energia simples e verdadeira que me acompanha durante dias.
Tenho optimas recordações de momento assim, guardo-as em silêncio, pois só no silêncio as consigo retratar melhor. Só vagueando o olhar, sorrindo em silêncio e as recordando, me volto a transporta para aqueles momentos sem vento, em que o sol se põe e se despede com um "até já", enquanto faço uma ultima onda até ao inside. Só no silêncio consigo voltar aos mil e um tons de vermelho, laranja, amarelo e rosa que tantas vezes admirei sentado em cima da minha prancha, impossiveis de retratar até pelo melhor pintor de sempre.
São momentos assim, que me fazem perder o medo de morrer jovem, pois vivendo estes momentos, já alcançei a minha eternidade.
3 comentários:
:) ainda há poucas horas quis transmitir a um amigo, um pouco mais jovem, de como é fantástico nos deixarmos fundir com a natureza, por momentos mais breves ou mais extensos mas em que podemos ser privilegiadamente felizes... este texto transborda esse sentir, talvez eu devesse aconselhá-lo a lê-lo, tantas as vezes quantas as necessárias até ele interiorizar o que lhe pretendia dizer... o meu momento silêncio-laranja-difuso a per/correr a cidade noite dentro não será tão puro, natural, nem visualmente mágico mas é o que tenho para me eternizar e ser feliz mais um pouco todos os dias!
obrigada pela partilha!
Obrigado Ana pelas suas palavras.
Realmente o dia a dia pode trazer-nos momentos fantasticos mas simples.
Um bom vinho numa boa companhia, um sorriso de um estranho, uma rua iluminada pelo por do sol, crianças que brincam..
dão cor e dão sentido... e da tranquilidade que daí advém e que se manifesta no nosso olhar, nos nossos gestos, nos nossos pensamentos, nas nossas acções... é a forma de estar na vida que me leva a "bom porto" independentemente do tamanho das vagas que tenha de ultrapassar ;)
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