terça-feira, 19 de março de 2013

Por entre sets

Por entre águas geladas e tormentosas me retirei. 
Encontrei por lá uma paz que não bebo em mais nenhum lado, nem no silêncio da noite na minha cama, nem mesmo numa rua perdida e mal iluminada de Lisboa com vista para o rio.
Retiro-me para a tormenta de um mar, que nada tem da tua presença, que pouco guarda de nós e é o que preciso agora.
Até nesta paz incomum, as ondas por vezes desafiantes, são meras figurantes num maior set que partiu no meu interior...Não encontro os teus cheiros, os teus aromas, o teu cabelo. Muito menos a tua pele, doce e dorada que me encantava nos dias de sol. Que me fazia suspirar, e mesmo quando o cansaço começava a apertar, nem o corpo cansado e exausto se resignava e deixava de nela mergulhar.

(Foto disponivel em: http://www.abc.net.au/news/2012-03-23/tops-shots/3905928)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sunset by the sea

(http://www.southclay.co.uk/southclay-northdevon.asp)
Sente-se uma penumbra de mistério quando saímos da água já de noite. Como se esta se apaixonasse pelo mar, e nós, surfistas, testemunhas desse amor, aproveitamos até à ultima onda possível, como se de ultima dança se tratasse.
Normalmente os pés ressentem-se, gritando em silêncio, pelo frio que entra na pele. Tudo é estranhamente mais molhado, mais prolongadamente molhado. A água toma conta de nós e perdura no cabelo, entre os dedos dos pés e até nas pestanas salgadas mais tempo do que desejariamos. Levamo-la para casa, entranhada na roupa justa ao corpo, nas meias que afagam os pés gretados e nas calças ainda cheias de areia. E mesmo no dia seguinte, o sal parece resistir ao calor do conforto, permanecendo nas pestanas, na pele das mãos e no cabelo, com uma medalha simples para alguém que surfou até ao ultimo raio de sol.
Por tudo isto e muito mais, adoro surfar até o sol se pôr. Transbordo vitalidade, paz, tranquilidade e uma energia simples e verdadeira que me acompanha durante dias.
Tenho optimas recordações de momento assim, guardo-as em silêncio, pois só no silêncio as consigo retratar melhor. Só vagueando o olhar, sorrindo em silêncio e as recordando, me volto a transporta para aqueles momentos sem vento, em que o sol se põe e se despede com um "até já", enquanto faço uma ultima onda até ao inside.  Só no silêncio consigo voltar aos mil e um tons de vermelho, laranja, amarelo e rosa que tantas vezes admirei sentado em cima da minha prancha, impossiveis de retratar até pelo melhor pintor de sempre. 
São momentos assim, que me fazem perder o medo de morrer jovem, pois vivendo estes momentos, já alcançei a minha eternidade.

segunda-feira, 4 de março de 2013

"From dusk till dawn"



Numa manhã comum de sábado, eu e o Nuno, saímos de Lisboa com um objectivo: a procura por um pouco de paz e alegria para as nossas vidas algures entre as ondas da costa alentejana.
Têm sido tempos difíceis para ambos, e no fundo esta fuga partilhada há muito era necessária. Durante toda a semana desejamos e idealizamos ondas fáceis em águas cristalinas, mas não existem ondas fáceis em tempos difíceis. E como uma metáfora da vida encontramos ondas exigentes e rigorosas em águas frias, que mais uma vez testaram os nossos medos e limites. Lutamos, remámos e sofremos com o frio, mas na verdade o proveito foi pouco. Ainda assim,  mesmo dentro de um mar turbulento que encontramos em Odeceixe, sentimos um pouco da tão desejada tranquilidade.
Penso que no fundo, é nesta transcendência que encontramos a beleza do surf, uma onda mal surfada, um simples “entrar no mar”, um simples take-off numa espuma e conseguimos esquecer por nanosegundos o fardo que carregamos no dia-a-dia.
Assim por estradas poeirentas e campos verdejantes a desejar a chegada da primavera, partilhamos sorrisos, confidências e frustrações, conscientes que na segunda-feira voltaríamos a encontrar os mesmos problemas que despimos 6ª feira a tarde.